Todas as Precauções do Mundo

O assunto a seguir povoa as rodas de músicos. Parece que em toda gravação, show, ou reunião de músicos, ele vem à tona: caloteiros, maus pagadores, "enrolões" que dão canseira na hora de pagar.

Durante muitos anos, alimentei uma ingênua esperança de que esses "profissionais" pudessem mudar, de verdade. Mas os consecutivos calotes, além de acabarem com minha esperança, me deixaram algumas vezes em apuros financeiros, além de passar stress e humilhações para receber, onde eu virava o chato, e o "cliente" me fazia o favor de pagar.

Resolvi cortar o mal pela raiz, e parei de trabalhar com esse pessoal. Depois de camelar muito ao longo de alguns anos, hoje posso dizer que não tenho, no geral, problemas nessa área, pois me cerquei de amigos e colegas de trabalho com índole acima de qualquer suspeita.

Mas aprendi a lidar com "clientes" maus pagadores, e a detectar suspeitos nessa área.

Geralmente, o discurso do cliente conta muito. As pessoas com quem trabalho vão direto ao ponto: o dia, o número de faixas, e o cachê. Se existir algo fora do padrão no projeto, isso também é dito, mas a coisa não fica se prolongando demais. Quando o discurso é muito longo, e os 3 itens acima não são citados, desconfie, e não tenha vergonha de ir direto ao ponto e perguntar.

Muitos desses "clientes" evitam tocar no assunto dinheiro. Na verdade, essa é uma prática comum, porque estudam o comportamento do músico, se ele é firme ou "enrolável". Se você não perguntar, irá gravar sem saber o quanto irá ganhar, quando, e de que forma. Depois do trabalho feito, o músico vira refém do "cliente", e se o cidadão quiser pagar com uns cheques de terceiros depositados em sua conta depois de um mês, brigar é perda de tempo, porque o trabalho já foi feito, e o máximo que você pode tentar é pedir para apagarem seus tracks, mas é dificílimo, porque o estúdio não é pago para resolver os seus problemas. Por isso, pergunte, e não feche nada até que todas as suas dúvidas sejam sanadas: quanto e quando são essenciais. Se o "cliente" ficar de ver isso para você, também fique de dar a resposta sobre sua disponibilidade.

Se você nunca ouviu falar no seu "cliente", procure pesquisar com outros músicos. Quando o assunto é calote, ou qualquer tipo de "incoerência" nessa área, esses nomes se espalham rapidamente pelo meio.

E se o seu "cliente" for um desses nomes? Você tem 2 alternativas, e não aceitar o trabalho é uma delas. Mas, se topar, procure tomar todas as precauções necessárias. Se não sinto firmeza com o "cliente", peço pagamento adiantado em dinheiro, ou depósito antecipado. Como digo a eles: "a forma de pagamento é inegociável". Nessa hora, aqueles que já tinham a intenção de não pagar (acredite, esses caras planejam isso com antecedência) acabam desistindo de chamá-lo, e os poucos que topam estão cientes de como serão as coisas: a primeira nota só será tocada com as outras notas dentro do bolso.

Obviamente, estou tratando de "clientes" (termo pejorativo), e não de nossos clientes de sempre, que são pessoas de caráter, e que nos fazem sentir privilegiados de trabalhar com eles. Com esses nunca combino nada, só quero saber o dia em que será o trabalho.

Todas essas precauções com "clientes" são chatas e desgastantes, mas necessárias.

Abraço,

Claudio

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