Você Vai Tocar No "Vasco"?



Li um texto muito bom que me inspirou a fazer essa postagem. Ele se encontra aqui.

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Há alguns tempos, está em curso no meio musical um movimento liderado por grandes artistas, principalmente - mas não exclusivamente - do sertanejo universitário que já está afetando e irá mexer muito mais com a vida dos músicos.

O movimento pode ser chamado de "Vamos Abaixar Seu Cachê, Otário".

Vou dar a esse movimento uma linda sigla: V.A.S.C.O.

As pessoas que estão do lado de fora e vêem aquele palco gigantesco, com um impressionante telão de LED e uma mega banda com postura de roqueiros, mas com um sanfoneiro junto (nada contra sanfoneiros), jamais poderiam imaginar que uma grande parte dos músicos está ganhando um cachê parecido com aquele rapaz que toca sozinho na praça de alimentação do shopping perto de casa, ou até menor.

Mas é verdade.

Como um "insider", tenho presenciado e ouvido histórias que são incríveis. Eis algumas:

  • uma banda que ganha um cachê miserável chega no empresário e pede um pequeno aumento. Ele fica irritado com o pedido e, como forma de "castigo", diz que vai abaixar o cachê. "Quem não quiser fique à vontade para pedir as contas!", diz;
  •  um artista muito famoso, que paga um cachezinho ruim, vai conversar com outro artista famoso, que paga um cachê bom: "cara, você tem que abaixar o cachê dos seus músicos, para deixarmos a verba dos músicos mais nivelada";
  • acompanhei um artista no ano passado em um show com mais outros 2 artistas, cada um com sua banda. No meio da história ficamos sabendo o cachê que os músicos dos outros artistas recebiam e chegamos a constatação: ganhávamos mais que as 2 bandas juntas…

 Eu entendo que os músicos que estão no início de carreira ganhem menos do que os que já tem um nome e estão estabelecidos no mercado. Eu comecei assim. Mas sempre tive referência dos valores que os "medalhões" ganhavam, assim como a famosa Tabela da O.M.B., e à medida em que ia caminhando, também batalhava para ganhar melhor. O problema de hoje é que muitos músicos estão acostumados com a idéia de que é normal ganhar mal por um show, mas fazer 25 por mês. Eu sei que o telão de LED, o ônibus adesivado e o olhar das pessoas quando você passa vestindo (literalmente) a camisa do artista são uma massagem no ego, principalmente das pessoas mais jovens, mas esse é um raciocínio burro, com todo respeito. Você acha que está ganhando, mas na verdade está perdendo.

Tive um professor que me dizia: "você precisa criar um 'tripé' no mercado: faça show, gravações, dê aulas… e o que mais aparecer", e sempre tentei seguir isso na minha carreira. Para mim faz sentido, porque se um nicho vai mal, você compensa com outro. Para que isso aconteça, você tem que criar um network, e quanto maior ele for, melhor para você.

Agora, com 25 shows num mês, o que mais você consegue fazer além de entrar no ônibus (viajar de avião é quase mais difícil que ganhar na Mega-Sena, rs), ir para o hotel e fazer o show? Além dos músicos que você toca todo santo dia, consegue criar uma rede de trabalho? Consegue fazer outros trabalhos, como gravar, dar aula, tocar em outras gigs, etc?

O que é melhor, fazer 20 shows recebendo X, ou fazer 10 recebendo o dobro? O valor é o mesmo… mas o ganho é diferente.

Aí, um belo dia o artista decide mudar a banda, e você sai… geralmente com "uma mão na frente, outra atrás". Vê que saiu completamente do mercado, e que as vagas que deixou já foram preenchidas. Já vi isso acontecer, e é triste receber uma mensagem de um super músico dizendo: "por favor, se souber de algo, me avise. Estou há quase 1 ano sem trabalho".

Lembre: se você cobrou pouco, o próximo músico que está chegando terá que cobrar menos para poder entrar. E aí, vai encarar baixar seu cachê (que já é ruim) para não perder sua vaga?

Cuidado para não acabar tocando no "vasco".

Abraços,

Claudio

Comentários

Muito bom texto meu amigo Claudião, já conversamos muito sobre o que está ocorrendo, a necessidade da conscientização dos músicos que estão iniciando suas carreiras é um fator fundamental para que o mercado e as condições futuras se equilibrem. Sabemos das dificuldades do país e de nossa profissão e também que cada um tem uma realidade, mas os pequenos passos para gerarem as mudanças devem começar a ser dados. Os diálogos sempre serão bem vindos. Parabéns pela iniciativa de escrever. Abração!
Porchelli Bass disse…
Essa é uma briga eterna, quando comecei as reclamações eram outras, mas com o mesmo intuito, infelizmente de lá pra cá as coisas só pioraram, o país piorou, e com isso tudo piora como uma avalanche.
Tenho muito medo de onde podemos chegar.
Parabéns pelo texto.
Unknown disse…
Excelente texto Bro.
Aqui na minha cidade comprei briga com um monte de gente por causa disso, mas infelizmente saí perdendo.
Até músicos amigos meus acham que estou viajando.

Abraços
Claudio meu amigo...parabéns pela belíssima e clara colocação a respeito de um assunto que eu venho falando há muito tempo...."Você está tocando para enriquecer o artista se vc não ganha pelo menos a tabela"....Eu já ganhei tabela....já ganhei mais que tabela...nunca menos que tabela...
Como vc disse...O ônibus adesivado, o palco cheio de Led realmente impressionam mas não acho que é assim que funciona e como dizem "Pera lá, não é assim que a banda toca"...graças a Deus consegui respeito e moral pra dizer e exigir a fumaça de Glicerina longe de mim e não quero Luz amarela na minha cabeça....como assim...? agindo dentro da lei, exigindo respeito, tabela, diárias e conforto..."Musico precisa de conforto" - (frase do nosso grande amigo Elias Almeida) - Sempre carrego essa frase comigo, faz parte das minhas exigências..em contrapartida o que eu ofereço...? Estudo, disciplina, respeito, qualidade de som, de equipamento etc.....Se vc chegar com um instrumento "meia boca" e um cabo mais meia boca perguntando onde eu ligo...?...Pronto, fatalmente você será um sério candidato a tocar no V.A.S.C.O........
Super abraço meu amigo
Informativo disse…
Olá, só uma correção, se não me falha a memória, a responsabilidade pela tabela é do sindmusp.
Infelizmente isso está aconteçndo com muita frequência, é o famoso: lei da oferta e lei da procura, todos nós sabemos que a arte não vive sem dinheiro, e essa crise colabora para a redução dos trabalhos e associado ao pouco incentivo que as prefeituras ofereçem para nós em relação a projetos culturais.
Acredito que esse é o momento para que esses músicos procurem o sindmusp para que acione a Omb, para que seja tomada alguma providência.
Seu texto é muito pertinente e atual, parabéns pela iniciativa, aos a todos amigos músicos.
Claudio Rocha disse…
Você tem toda razão, a tabela era feita pelo Sindicato. Deixei como "Tabela da Ordem dos Músicos" por me referir a ela desse modo a vida toda.
Grande abraço!!!
Unknown disse…
Bem observado !Bem sou musico a 20 anos,se gasta muito pra você trabalhar com musica, bons instrumentos equipamentos e estudo. Percebi que de uns 10 anos pra cá a profissão de Musico desvalorizou e o cache cai demais em relação a 10 anos atras ,concordo sim com o fato dos atristas desvalorizarem os musicos ,mas acho que a grande cupa disso,são os proprios musicos que se desvalorizam e abaixam seu cache pra pegar um trabalho. sei disso pois muito lugares que toquei vi aparecerem músicos se oferecendo pra tocar por menos ,coisa que nunca fiz e nunca vou fazer,pois alem de desrespeitar a si mesmo pior ainda e desrespeitar o trabalho dos outros. Tem algumas pessoas que aprendem 3,4,5 notas e se acham músicos e compram um instrumento meia boca e vão competir com quem levou anos estudando,gastou um absurdo com bom instrumento e equipamento,isso, aos olhos dos leigos ou dos artistas mão de vacas que não sabem a diferença de uma IBANEZ ching ling e uma japonesa é melhor pagar pra quem cobra menos! Pois um musico de hoje que não estuda e não batalha ,pra ele estar tocamdo,curtir a viajem ,hotel ,ficar em evidencia,esta bom demais. E não é o mesmo para o verdadeiro musico profissional. Deveria haver criterios como uma licença com conhecimento e capaciade comprovada excercer a função de musico e assim valorizar nossa catergoria que hoje da vergonha de dizer que é musico .
Unknown disse…
O pior, não apenas as caches das gigs pioram, mas também as pagas de gravinas, os valores das aulas, e tudo mais. Não tem pra onde correr. Nem sequer os compositores se salvam. Ouve-se cada dia música de pior qualidade e o que menos importa é o conteúdo das composições e das harmonias/melodias.
Juninho Brasil disse…
Muito Bom o texto parabéns, sempre friso isso aqui na minha cidade para os amigos músicos e ''profissionais'' da música! estou numa luta contra o ''Vasco'' já faz um tempo. É muito difícil colocar isso na cabeça de alguns músicos (As vezes bem mais velhos que eu) mais acredito que se reforçar bastante isso, uma hora vai ter que ir! Grande abraço e Sucesso ai meu amigo!

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