Bossa Velha

Por Leandro Souto Maior - JB Online

Os 50 anos da bossa nova, já tão comemorados desde o fim do ano passado, levantam várias questões, entre uma das principais, o grande destaque aos intérpretes e compositores, como Tom Jobim, Vinicius de Moraes, João Gilberto, Menescal e Carlos Lyra, e o inversamente proporcional descaso com os instrumentistas que acompanhavam esses caras colaborando para a sonoridade característica do gênero que conquistou o mundo. Afinal, os intérpretes não cantavam ‘a capella’, isto é, sem acompanhamento.

Em qualquer livro que trate do jazz americano, por exemplo, mesmo o mais medíocre deles, costuma destacar os grandes músicos ao lado dos grandes intérpretes e compositores. No Brasil, é raro serem citados um Milton Banana, Edison Machado, Bebeto Castilho, J.T. Meireles, Copinha, Chico Batera, Wilson das Neves, Manoel Gusmão, Waltel Branco. A bossa não é só a batida diferente de João Gilberto. Ela é genial, fundamental, ponto de partida. Mas tinha uma rapaziada da pesada junto, que contribuiu com sonoridade e estilo, também imprimindo sua marca.

Os eventos que vem sendo realizados, e os outros tantos que ainda vão acontecer esse ano, destacando o cinqüentenário da bossa nova, reúnem os mesmos nomes de sempre. Mesmo querendo forçar uma barra, incluindo pseudo novos nomes afins com o gênero, como Fernanda ‘Pato Fu’ Takai ou Maria Rita, não são pessoas que vão ter (e nem devem querer) sua imagem associada diretamente ao estilo. O que se pode prever é que daqui a algum tempo não será mais possível produzir uma celebração do gênero, já que os velhos nomes um dia não vão mais estar aqui e até agora, 50 anos depois, não surgiu nenhum herdeiro. É triste constatar que, apesar de toda a genialidade e originalidade da bossa nova, ela não se renovou e sempre foi e ainda é até feita do jeito que João Gilberto inspiradamente e genialmente a concebeu.

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