Músicos & Pasteleiros

Ontem, estava conversando com um amigo a respeito de uma "puxada de tapete" que ele levou de um colega de trabalho. O motivo: sua "demora" em gravar.

Coloquei essa palavra entre aspas, porque na verdade ele é rápido em gravar, é um excelente músico. Só que, como eu, não se importa em gravar tudo no 1º take, e às vezes pede para gravar outra vez. Não porque o primeiro ficou ruim, mas ele sabe que pode ficar melhor.

No meio de gravações aqui em São Paulo, existe um tipo de músico apelidado de "pasteleiro". É aquele tipo que cobra valores incrivelmente baixos para gravar, procurando ganhar na quantidade de trabalhos realizados. É um tipo de praga no meio, que tira trabalho de muita gente boa, e nos faz perder o poder de negociação.

O problema não tem a ver com instrumento, leitura ou execução. É simplesmente uma questão de acabamento: um "pasteleiro" se contenta com a idéia que vier primeiro, nem que ela chegue lá pelo meio da música. Terminou, não errou nenhum acorde, já levanta para tomar café ou parte para a próxima música. Tudo tem que ser muito rápido, porque o cara tem outra gravação marcada dali a poucas horas, e não pode perder tempo com lapidações e testes.

Apesar de discordar da política que os "pasteleiros" usam a respeito de cachê, vejo que muitos deles são músicos de qualidade, que simplesmente deixaram de brigar por cachês melhores. Já faz anos que desisti de concorrer com eles, até porque é impossível concorrer com músicos que cobram 1/4 do seu cachê mais baixo, mas mantenho um relacionamento cordial com o pessoal do pastel. Simplesmente pelo fato de eu não ter capacidade de ser um "pasteleiro": mesmo que viesse a receber 1 passe de ônibus como cachê, iria querer fazer as coisas como se estivesse recebendo a tabela da OMB.

Fica ao meu amigo, uma palavra de ânimo: "buscar o que é melhor, isso é o mais difícil, mais demorado, mas uma hora a recompensa chega."

Abraço,

Claudio

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