Aprendendo a Dançar



Esses dias passei uma situação delicada, não tão incomum como gostaria.

Após ter gravado o CD de um artista relativamente conhecido no mercado, recebi no meu e-mail o contrato para assinar.

Não sou muito de ficar lendo contratos, mas resolvi dar uma olhada mais atenta. No meio das inúmeras cláusulas, uma me chamou a atenção: a cessão completa de direitos conexos, em caráter irrevogável.

Já havia passado por isso algumas vezes, e já havia feito de tudo um pouco: dar um sumiço no contrato, ir embora e "esquecer" de assiná-lo, mas desta vez resolvi fazer algo diferente.

Por causa de todo processo ter sido feito pela internet, resolvi tentar algo diferente: perguntar (afinal, perguntar não ofende):

"Tenho uma dúvida com relação aos direitos conexos. Eles incluem a execução em rádio? Se for positivo, seria possível uma alteração na cláusula excluindo essa cessão? Me sinto desconfortável em abrir mão de algo que é um direito do músico. Atenciosamente.", etc.

Mandei o e-mail esperando qualquer tipo de reação. Afinal, parece que as pessoas não gostam muito de ser questionadas a respeito de temas mais, digamos assim, picantes. Da produção, o e-mail foi para a gravadora. Da gravadora para o advogado. Do advogado vem um e-mail com a pergunta: "em que posso ajudá-lo?" Expliquei mais uma vez a coisa toda, com toda educação que minha mãe me deu, e perguntei se a cessão de direitos conexos poderia ser excluída do contrato.

Para minha completa surpresa, a resposta foi de que a cessão de direitos conexos havia sido retirada por completo do meu contrato! Mandei um e-mail agradecendo, e assinei o novo contrato que me foi enviado, com muito gosto.

Essa história me fez refletir.

Muitas pessoas (incluindo esse que vos escreve) têm receio de se colocar a respeito de questões "inflamáveis", com medo de se queimarem no mercado. Acabam cedendo, mesmo se sentido injustiçados. E outros, quando questionam, partem para uma postura agressiva: frases como "não vou assinar", "é um desrespeito com os músicos", "sacanagem", são inseridas em um contexto já turbulento, tendo resultados às vezes complicados.

Saber se colocar, mas com educação, é uma arte. Com certeza não domino essa dança, mas talvez esteja indo na direção certa…

Abraço,

Claudio

Comentários

Ramon Montagner disse…
Legal Claudião
fez mega certo, pois com eles parece ser sempre no"se colar colou"...parabéns
abração
Claudio Rocha disse…
É vero, amigo…
Dessa vez, foi uma palavra no meio de trocentas cláusulas, rsrsrsrs. Quando o advogado me falou que havia sido excluída, tive dificuldade de achar a mudança… ele simplesmente tirou a palavra "conexos" da frase… para não perceber e deixar passar batido, não precisa muita coisa, rs.
Abs!
Clsudião
Bacana Claudião:

"Saber se colocar, mas com educação, é uma arte. Com certeza não domino essa dança, mas talvez esteja indo na direção certa…"..

é sempre uma grande lição este blog.
obrigado cara!
Boa Claudião!

Este ano mesmo passei por uma situação de escolha quanto aos meus direitos: processar ou não processar quem me mandou embora de um trabalho na área da música. Entrei na justiça e ganhei.

Alma lavada e com minha carreira musical honrada!

abs

Sérgio Pereira

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