Respeitando o Material

Você não gravou o CD, mas foi chamado para fazer os shows com o artista / banda. Ou você está subsituindo de maneira temporária ou permanente o músico anterior. Você tem um repertório pela frente, e como lidar com ele de maneira adequada?

Essa pode parecer uma pergunta boba, mas acho muito importante discutí-la, porque uma abordagem equivocada pode fazer a diferença entre ser o músico da banda ou não, ou ser o substituto que ninguém quer. E, acredite se quiser, esse erro é mais comum do que parece.

Vou começar descrevendo a maneira que abordo esse processo. Pode não ser a melhor, mas é a que tem funcionado para mim.


Posso receber o material de algumas maneiras, como áudio, cifra/partitura, links do YouTube, etc. A referência de áudio é muito importante, porque só a partitura, mesmo que contenha toda a linha que você deve tocar, muitas vezes não detalha dinâmicas e outras intenções que o áudio revela.

Por mais importante que seja o trabalho, o processo é como se estivesse em uma banda cover. Procuro ouvir a linha, convenções, repetições, "assinaturas" do contrabaixo, para ser o mais fiel possível ao material original. Se percebo que uma frase, mesmo simples ou "boba", está na música por algum motivo, procuro respeitá-la e fazer igual. Introduções de contrabaixo, tiro nota por nota. Acredite, alguns cantores se baseiam nessas frases para entrar na música, e já vi situações em que o artista se perdeu por causa de uma mudança feita pelo músico. No caso que conheço, esse músico fez apenas um show e foi substituído.

Como já escrevi anteriormente, só vou pegar no contrabaixo no fim do processo, quando tudo tiver sido anotado e definido. Sair tocando em cima do material enquanto se está tentando aprendê-lo, tira sua concentração na música e a coloca no instrumento, e uma boa parte da informação é perdida. Por isso, minhas primeiras audições são somente com papel e caneta, e um fone de ouvido que reproduza bem os graves. Bobagem? Então tente escrever uma linha de baixo ouvindo-a pelos falantes do Notebook. Outra coisa: você não lê? Então decore a música ao invés de escrevê-la.

Quando entrei na minha primeira gig grande, tirei todas as linhas de baixo nota por nota, e as tocava da mesma maneira nos shows. Depois de alguns meses, o diretor musical me disse: "ok, a partir de agora fique à vontade para colocar algumas informações suas na música". E foi o que fiz.

Alguns músicos, principalmente os mais novos, têm sede de mostrar serviço, querendo sair tocando mais ou melhor (na sua opinião) do que os músicos que estavam antes deles. Como diz um amigo, se você está trabalhando como sideman, "jogue o ego no lixo". É melhor o diretor pedir para você tocar mais, do que menos. Seu profissionalismo será notado principalmente por sua postura de respeito, do que pela quantidade de notas ou vontade de "engolir" a música. Disciplina é essencial.

Abraço,

Claudio

Comentários

Fala Claudião!
Gostei da materia, é mais ou menos o que fazemos em nossa igreja. Não sou sideman, nem tenho pretenção de vir a ser, mas essa sacada dos arranjos originais, tem muita importância mesmo. Sempre que pegamos uma musica nova para o repertório do Ministério de Louvor procuramos tocar o mais fiel possível ao original, pois o pessoal do vocal escuta a musica original para aprender e acaba por pegar alguns lances do instrumental como referencia, então se você faz algo diferente que o pessoal não estava esperando, é quase certo que alguém se atrapalhe, ou melhor, que você atrapalhe alguém.

P.S.: ouvi o audio do Triton ontem lá no Ed, que groove heim meu irmão!!!

William(Aionius)

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