Relacionamento à Distância
Já tenho feito esse tipo de gravação há alguns anos, mas parece que em 2013 a coisa pegou fogo. Não aquele incêndio de grandes proporções, mas aquele fogo de lenha, sem grandes labaredas porém constante.
Apesar de já ter escrito algo sobre eSession há uns bons anos atrás, resolvi abordar mais um pouco o assunto, já que a quilometragem adquirida foi mudando minha percepção sobre o processo.
A eSession é vista por muitas pessoas como um processo prático, rápido e barato, por causa de alguns aspectos muito simples:
- é tudo realizado em casa, ou seja, não se perde tempo (e paciência) no trânsito, e também não se gasta combustível;
- por ser realizada na casa do músico, é um processo mais barato, pois o valor/hora do estúdio geralmente não é incluído no cachê do mesmo;
- o músico, por estar em casa, tem à sua disposição todo seu "arsenal" de instrumentos, efeitos, e todos os tipos de "brinquedinhos" que porventura tenha adquirido, coisa que nem sempre consegue levar para um estúdio tradicional.
Por conta de algumas dessas coisas, uma tentação muito comum é querer fazer preços promocionais, tanto por parte dos músicos quanto dos clientes.
Bom, não posso falar nada por parte dos clientes, mas gostaria de fornecer alguns dados aos músicos, para reflexão.
Quando você faz eSession, 99% das vezes você grava sozinho. Algumas vezes seu cliente acompanha via Skype, mas como a qualidade do audio não é lá essas coisas, há uma enorme probabilidade de você não ter mais ninguém na empreitada. Isso que dizer que você será o músico… e o técnico de som… e o produtor. Seu cliente pode dar todas as indicações necessárias, mas mesmo assim a hora de gravar é um vôo solo, onde você terá que auto-produzir além de tocar. Isso pode tornar o processo um pouco mais demorado, e talvez aquele trabalho que duraria 1 dia em um estúdio irá demorar o dobro para ficar pronto. Manter o foco nessa situação é fundamental.
Outra questão é o gerenciamento do tempo em casa. O andamento de uma eSession pode se estender um bocado por conta de você estar em casa, o que significa parar a gravação para pegar crianças na escola, levar o lixo pra fora, ceder à tentação de cochilar na rede depois do almoço, ajudar na lição de casa, etc. Essa questão merece uma atenção da sua parte, assim como daqueles que moram com você, que precisam entender que o fato de você estar em casa não significa que não está fazendo nada.
Com essas questões resolvidas, vem a última e mais dolorida questão da eSession: a distância entre você e seu cliente. Por mais que você siga à risca todas as orientações recebidas, o acompanhamento em tempo real do produtor não acontece, mesmo via Skype. Ou seja, você pode gravar a música, enviá-la, e chegar a resposta: "gostei, mas o timbre não é esse", por exemplo. O processo de ser interrompido no começo do take, e acertar algumas coisas juntos antes de gravar em definitivo, não acontece. O que acontece é saber do resultado depois de ter gravado, e acabar tendo que gravar tudo de novo, até a satisfação do cliente. Isso é uma parte comum do processo online, que o diferencia da gravação tradicional, e que vai sendo lapidado à medida em que vamos conhecendo melhor os clientes e seus gostos.
Por fim, o dinheiro.
Desenvolvi um roteiro para clientes novos, que é assim: após ser contatado, recebo a música, partitura, indicações e sugestões, etc. Aí parto para o processo de gravação propriamente dito. Gravada a música, envio para o cliente um mp3 da base com o baixo em destaque, para que seja feita a aprovação, pedidos de mudança ou a re-gravação. Quando estiver tudo certo, é a hora do depósito. Dinheiro na conta, ou cheque compensado, envio o audio em resolução apropriada. Claro, todo esse processo é explicado ao cliente antes de gravar… e os clientes habituais têm seus privilégios também…
Bom, acho que é isso. Dúvidas e sugestões são sempre bem vindas.
Abraço,
Claudio
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