A Difícil Arte dos Relacionamentos

Anos atrás, um grande amigo me perguntou:
"Por que alguns músicos, que tocam bem, têm bons instrumentos, lêem, etc, trabalham bastante, enquanto outros, com as mesmas características, não conseguem trabalho?"
Confesso que não consegui responder a pergunta naquele momento, nem naquele ano, nem nos anos seguintes.
Depois de bastante tempo no mercado, acho que comecei a arranhar a superfície desse assunto, e a primeira coisa que salta à vista é a palavra "relacionamento".
Saber relacionar-se com outros músicos, produtores e artistas, é uma arte à parte.
Estava assistindo uma entrevista do David Foster, na qual ele falava sobre os músicos que sempre chamava para trabalhar. Resumindo um pouco o que ele falou: "quando temos músicos que tocam muito bem, e com uma excelente postura profissional, são esses os caras que quero ter por perto."
Muitos músicos acham que simplesmente tocar muito bem é garantia de ser chamado para trabalhar, mas nem sempre isso é verdade. Já vi muitos músicos que tocam maravilhosamente bem, mas que têm um temperamento proporcionalmente complicado, e acabam sendo aos poucos afastados do meio.
Não se engane: as pessoas com que você trabalha querem um conjunto de coisas além da execução. Querem uma pessoa fácil de lidar, que saiba receber sugestões sem melindres, que esteja disposto a fazer um "take" a mais sem reclamar, que ofereça opções ao invés de se contentar com o famoso "mais do mesmo", que seja pontual, uma pessoa de confiança, que não vai tentar derrubá-los para pegar os próximos trabalhos, que tenha segurança e honestidade para dizer que não sabe tocar algum estilo específico e sugerir outro músico para o trabalho.
Não estou dizendo que temos que ser um bando de "puxa-sacos" que fica elogiando arranjos e músicas mal feitas, só para tentar agradar ou cair nas graças das pessoas. Esse é o outro extremo, igualmente prejudicial, até porque esse tipo de coisa é facilmente detectado pelas pessoas.
Infelizmente, muitos músicos ainda não perceberam ou quiseram se aprofundar na arte dos relacionamentos, e continuam por aí, se queixando do mercado, dizendo que tudo é uma máfia que nunca os chama, etc. Realmente, a situação não é fácil para ninguém, mas poderia ser um pouco melhor.
Abraço,
Claudio

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