Mudando o Foco

Escrevendo sobre a minha primeira gravação como profissional, lembrei de outra coisa interessante.
Meu ensino formal foi realizado com 2 professores, adeptos do jazz e improvisação. Ao longo dos meus estudos, fui pegando gosto por solos, e baixistas como Jaco Pastorius, Jeff Berlin, John Patitucci, Marcus Miller, etc. Minha concepção musical era "quanto mais complicado, melhor".
Naquela "primeira" gravação, o maestro disse que iria colocar um CD para ouvirmos. Dessa maneira, teríamos uma referência do que ele queria como arranjo da música.
Quando o CD começou a tocar, um frio começou a subir na espinha. A música era um bolero, daqueles com Tônica e Quinta. Como um fiel discípulo de "chapeiros", comecei a pensar em como envenenar aquele bolero, dificultar a execução, porque aquilo era um ritmo pobre, e a minha execução deveria ir além do trivial.
Mas tudo o que eu pensava ia soando estranho quando tocava com o CD, até que me dei por vencido. O bom senso me dizia:"toque o bolero como ele deve ser tocado, droga!"
Na hora de gravar, toquei a famosa linha de bolero, e tudo funcionou às mil maravilhas, já que os outros músicos, excelentes por sinal, também tocaram suas partes dessa maneira, sem nenhum pudor.
Nesse dia entendi uma coisa: às vezes somos tão focados em nossos instrumentos que sequer paramos para ouvir a música, e ela sempre tem algo a nos dizer. É só prestarmos um pouco de atenção, e está tudo lá, as linhas que temos que tocar, se devemos buscar algo diferente ou o trivial. Tudo isso a música nos diz, é só estarmos atentos para ouvir.
Abraço,
Claudio

Comentários

DMNE disse…
Claudio, legal seu blog, tenho acompanhado regularmente.

O que escreveu é verdade em todos os instrumentos e em todos os outros assuntos no qual nos propomos a trabalhar.
Devemos dominar a técnica ao máximo, conhecer o melhor possível (dentro de nossa própria limitação). Na hora de executar o "trivial" fica fácil. Não precisamos ter medo.
Mas, por que precisamos saber tanto se nunca somos solicitados para expor todo o conhecimento e técnica?
Eu acredito que é porque algumas poucas vezes seremos solicitados e precisamos estar preparados. Nos outros 99% dos casos podemos fazer o trivial com segurança e satisfazer à todos.
MARCIO (DMNE) Domene
Mauricio Domene disse…
Creio que a gente precisa saber bem mais do que o solicitado porque é a única forma de executar o simples com segurança, com pegada. Se só soubermos o trivial, ele vai estar muito próximo do nosso limite, muito perto de ficar fora da zona de conforto.

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