O Fator Psicológico

Há alguns anos atrás, estava em uma gravação de base, e um dos músicos era o "top" no seu instrumento.
Estava indo tudo bem, até o momento em que ele cometeu um pequeno erro. Terminamos a base e ele pediu para corrigir aquele erro. O técnico colocou no ponto e ele gravou de novo. E errou. Mais uma tentativa, e mais um erro.
Aí, o semblante desse músico mudou, da descontração para a tensão. Abaixou a cabeça, ficou em silêncio durante algum tempo, e pediu mais um take. Tocou, acertou e fomos para a próxima.
Essa situação muitas vezes volta à minha mente, porque foi um dos primeiros momentos, como músico, em que percebi a força do fator psicológico em ação. O que será que passou em sua cabeça? "Sou um músico top, com uma montanha de CD's gravados, estou aqui tocando com uns moleques, e estou errando a mesma parte 'trocentas' vezes. O que eles devem estar pensando de mim?"
Como uma pessoa introvertida, muitas vezes insegura, tenho sentido as garras do nervosismo travando meus dedos e meus pensamentos. O olhar do produtor, um comentário feito no estúdio, tudo pode ser o estopim para as engrenagens começarem a girar.
Nos últimos anos, tenho procurado usar o fator psicológico ao meu favor, mas não é fácil. Encarar a tensão de frente, se impor e canalizá-la na forma de concentração, de uma melhor execução, exige muita disciplina mental. Com certeza ainda não aprendi a dominá-la, mas posso ver um progresso, lento, porém constante.
Abraço,
Claudio