O Dia-a-Dia no Estúdio

Começando a escrever sobre os temas sugeridos por leitores do blog.

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Sei que cada dia, em se tratando de estúdio, é uma nova aventura: clientes com gostos diferentes, estilos variados, partituras impressas no Encore, outras em papel de padaria, etc. E existe toda uma série de observações e preparações que mudam muito pouco.

A primeira coisa que procuro saber em um estúdio é se o acesso é fácil ou não. Estúdios com escadas, elevadores, em regiões centrais, com estacionamento ou não, tudo isso implica em alguma preparação, sua ou do roadie. Imagine a cena: parar o carro em um estacionamento, tirar seu equipamento, e carregá-lo uns 500 metros até o estúdio! Absurdo? Nem tanto, se o estúdio ficar em um prédio no calçadão da Avenida São João (e existe mesmo!). Nessas horas, apesar de não ser o ideal, levar um kit mais compacto, ou contratar um roadie, pode ser uma solução mais prática e saudável para suas costas.

Outra coisa a se levar em conta é aonde você vai gravar: na “técnica”, junto com o técnico de som, ou na sala de bateria. No começo gravava na “técnica”, mas depois comecei a perceber que quando gravava na sala junto com o baterista, nosso sync melhorava muito. A única coisa a se levar em conta é o tipo de monitoração dos estúdios. Alguns não têm vias separadas, ou o técnico não sabe equilibrar o som que vai para o fone, aí acabo pedindo para gravar na “técnica”. Claro, existem estúdios pequenos, em que simplesmente você não cabe na sala da bateria, mas quando for possível, é uma experiência válida.

Equipamento montado, ligado, som passado, chega a hora da gravação propriamente dita. Sempre levo umas canetas para marcar a partitura: marca texto para frisar ritornellos, codas e outros sinais, e uma preta para escrever ritmos e notas. Além de um par extra, o famoso “kit batera”, já que os bateristas em geral são famosos por ficarem pedindo emprestado.

A compreensão da partitura é muito importante, e algumas vezes exige um certo empenho extra do músico. Os arranjadores não escrevem da mesma maneira, e alguns não sabem escrever. Ao perceber que seu domínio do Pozolli e Bona não ajudará muito a ler “aquelas” coisas, pergunte. Ninguém tem obrigação de interpretar “hieróglifos egípcios” no que deveria ser uma partitura.

Esteja atento ao arranjador/produtor, e tente se adaptar o mais rápido ao estilo dele. Alguns gostam de mais notas, outros de menos, por isso uma frase do tipo “pode soltar mais a mão” pode ser uma indicação do seu gosto. Mas também saiba se respeitar musicalmente. Tocar de uma maneira totalmente contrária ao seu bom senso é algo muito angustiante, e às vezes sugerir outro músico para aquela situação seja uma saída mais elegante.

Respeite seu primeiro take, mas não se apegue a ele. Muitas vezes, o primeiro take é o que fica, pois vem carregado pelo impacto inicial à musica. Outras vezes, é necessário lapidar melhor algumas idéias, e outros takes são necessários. Apesar de alguns músicos acharem que gravar tudo de primeira é essencial, isso não é de nenhuma maneira sinônimo de qualidade. Acho que o ideal é gravar todos os takes com a mesma consistência e disposição do primeiro.

Não tenha medo de pedir para gravar mais uma vez, se achou que não ficou como deveria.

Básico porém menosprezado: cordas novas, baterias em dia (no caso de baixos ativos), instrumento regulado, tudo isso conta no resultado final.

E, por último: seja simpático, respeitoso, sem ser “puxa-saco”. Todo mundo percebe a diferença...

Abraço,

Claudio

Comentários

Lion disse…
Como sempre, belo texto! Simples, mas elucidativo!
Continue mantendo a pegada, camarada!
Tudo de bom!

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