Janeiro, Janeiro, Janeiro...


Coloquei uma mensagem no Facebook, dizendo que o bom de estar ficando mais velho é que estava ficando menos ansioso, que estava curtindo meu janeiro com muito pouco trabalho, e que achava um "upgrade", se comparado ao meu "eu" de 10 anos atrás. Pelo número de comentários, na grande maioria feitos por músicos, resolvi escrever algo a respeito.

Janeiro é um mês "maldito" para uma boa parcela dos músicos. Vindos de um 2º semestre cheio de trabalhos, alguns percebem uma desaceleração repentina, resultando a poucos (ou nenhum) trabalhos. Alguns já começam a sofrer em dezembro, percebendo a agenda do mês seguinte bem vazia.

Não me considero melhor que ninguém, tenho meus períodos de "neuras", mas confesso que esse janeiro foi diferente de todos. Economizei algum dinheiro em novembro e dezembro, para essa época de "vacas magras", que além de tudo tem muitos impostos. Fiz uma pequena viagem para Minas Gerais, ganhei uma bolsa em um curso de fotografia (que sonhava em fazer há vários anos), tive tempo para cuidar de minha esposa, que fez uma pequena cirurgia, e precisava de repouso absoluto, sem me preocupar com as poucas datas na agenda.

Isso me faz lembrar de uma situação vivida há muitos anos atrás.

Estava gravando um CD de uma cantora gospel, no fim do ano. Quando terminei, me perguntaram se poderia continuar esse trabalho na semana seguinte. O problema é que já tinha uma viagem de férias marcada, com passagem comprada, hotel pago e tudo. Disse que não podia, se não dava para passar para a semana seguinte. "Não dá, o estúdio já está reservado, todo mundo pode", disse o produtor. Para piorar, iria chamar um super-mega-blaster baixista como meu "sub".

Fiquei desesperado. "A hora em que gravarem com ele, nunca mais vão me chamar", pensei. Entrei no carro, quase chorando, cheguei em casa, briguei com a minha esposa, quase cancelei a viagem, mas acabei vendo que seria melhor se eu fosse.

Passei uma semana infernal em Porto de Galinhas: pensava que iria perder o trabalho durante o dia inteiro, andava pela praia verificando se o sinal do celular pegava, caso algum cliente me ligasse, coisas desse tipo. Teria estragado as férias da minha esposa, se não tivesse me esforçado muito para parecer alegre.

Voltei de viagem, veio o Natal, ano novo, e nada de trabalho. Já estava convencido que aquele "erro" de ter saído uma semana de férias tinha sido fatal, que jamais iria gravar de novo, era melhor procurar outro emprego.

Aí, uma semana antes de entrar fevereiro, meu telefone tocou. Era uma gravação, com o mesmo produtor, o mesmo CD, uma última música. Me senti envergonhado pelo medo infundado, por todo estresse sofrido por nada.

Hoje entendo que todo ano tem uma dinâmica: meses ruins, outros médios, alguns ótimos, e isso varia de músico para músico. Posso estar me matando de trabalhar, e um amigo está parado há um bom tempo, e vice-versa. Apesar disso, no fim das contas, o saldo tem sido positivo, graças a Deus. É isso que tenho procurado viver no meu dia-a-dia, por isso escrevi que esse está sendo um dos melhores "janeiros" dos últimos anos.

Não digo que nunca mais vou ter minhas inseguranças com trabalho, mas que estou aprendendo a lidar com elas.

Abraço,

Claudio

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