Provando do Veneno

Nas minhas conversas (muitas, diga-se de passagem) com um amigo e colega de trabalho, chegamos a uma conclusão sobre o mainstream do mercado musical:

"Como a música está cada vez menos musical, talvez músicos de verdade não sejam necessários."

Para exemplificar: qual a necessidade do músico saber ler cifra, se hoje existem arranjadores que não sabem escrever? E qual a necessidade de saber escrever música, se as canções "estouradas" nas rádios terem meia dúzia de acordes?

Sei que a afirmação acima é muito simplista, mas ajuda a explicar um pouco a situação que vivemos nesses dias, onde os cachês viraram uma sombra do que deveriam ser, artistas querem músicos que sabem dançar no palco, e músicos que colocam anúncios de trabalho dizendo apenas que seu repertório está "atualizado".

Passei uma situação muito interessante nesse meio. Há alguns meses, fui chamado para fazer um show de uma dupla de sertanejo universitário, por um amigo que também estava entrando na banda.

O cachê combinado era 3 vezes maior do que a banda ganhava, no meu caso. Meu amigo, por entrar como diretor musical, 4 vezes. Claro, tudo teria que ser mantido sob sigilo, para que o resto da banda não fizesse um motim. Não que estivéssemos ganhando muito, mas a banda ganhava muito pouco, algum muito comum no mercado sertanejo universitário, mesmo com artistas famosos.

Desde o começo, sabia que essa era uma gig com os dias contados: esse tipo de segredo não fica guardado durante muito tempo. E existem baixistas "a rodo" que tocam esse estilo, ganhando um cachê irrisório com um sorriso no rosto.

O acerto era fazer um ensaio e um show. Desconfiado que sou, comprei minhas passagens 3 dias antes do show, depois se perguntar se estava tudo ok, e começamos a escrever o repertório de inacreditáveis 30 músicas, porque, como as músicas desse estilo têm em média 2:30 minutos, uma quantidade absurda faz-se necessária para que o show não acabe em 50 minutos.

Tinha escrito a primeira quando meu amigo entra em contato e me avisa que fomos "limados" da gig! Apesar de já ter feito esse processo inúmeras vezes, a dupla estava insegura de fazer apenas um ensaio antes do show, então arrumaram um baixista e um tecladista para tocar em nosso lugar. Claro, recebendo o mesmo cachê do resto da banda. O correto seria recebermos nosso cachê mesmo sem fazer o show, já que não se desmarca um trabalho 2 dias antes de realizá-lo, mas ficou muito claro que não poderíamo contar com o bom senso ético dos artistas.

Para ser o mais honesto possível, senti muito apenas pelo dinheiro que deixei de ganhar… porque, como disse no começo do post, esse tipo de música talvez não precise de um músico que escreva as músicas, faça um ensaio e depois o show, ganhando o triplo da banda. Se aparecer um que tenha o repertório decorado, "atualizado", faça quantos ensaios o artista quiser, recebendo um cachê no melhor estilo "empada e guaraná", a engrenagem irá funcionar praticamente igual. E, se ele dançar no palco, aí será perfeito!

Vivendo e aprendendo.

Abraço,

Claudio

Comentários

Nossa! Muito triste isso heim Claudião?!!!:(
Nosso país tem tantos musicos excelentes, mas a musica brasileira esta numa decadência só! E falta de ética profissional e vergonha na cara esta cada vez maior! Fiquei triste por você irmão! Que Deus o abeçoe nessa caminhada!
Abraços.

William Fortunato(Aionius)

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