Forró "Pentecostal"

Essa história aconteceu há muitos anos atrás...
Em um belo dia no estúdio, dizem que vamos gravar um forró pentecostal, ou repleplé, ou sapatinho de fogo, ou forrobodó, etc.
Nunca fui um grande tocador de forró, aí gravo da maneira trivial, e olho a cara do produtor tipo "não está bom", mas sigo em frente.
Meses depois, conversando com o técnico do estúdio, fico sabendo que o produtor chamou outro músico para regravar os forrós!
"Meu Deus!", pensei. "Descobriram que sou uma farsa, que não sei tocar forró com suingue!"
Perdi algumas noites de sono com medo de ser excluído do mercado de gravações por causa disso.
Aí, no fim do ano, viajei de férias para Fortaleza, onde fiquei hospedado na casa de um amigo percussionista, Evilásio Bilas.
Contei essa história e ele me disse: "vamos às compras!"
Fomos em uma loja e ele separou um monte de CD's para mim: Clementino Moura, Luizinho Calixto, Otilio Moura, Mastruz Com Leite, Mestre Ambrósio, Antonio Nóbrega, Trio Nordestino, e várias coletâneas de forró "pé-de-serra" e "vanerão".
O que mais me impressionou foi o suingue e concepção de groove, sempre prestigiando a levada, com frases bem colocadas e sem muitas "firulas", algo praticamente inverso ao que me pediam nas gravações.
Voltei feliz pra São Paulo, querendo estudar tudo o que podia para não fazer feio nos próximos trabalhos. Escrevi as linhas de baixo, pesquisei os timbres, toquei com o CD, tentando ao máximo absorver a linguagem.
Aí apareceu a gravação, e fui confiante com todo o aprendizado que tinha adquirido.
Comecei a ouvir a música e a perceber que aquilo não era bem o que eu tinha ouvido nos CD's que trouxe do Nordeste. Tentei colocar uma levada, não funcionou. Outra tentativa, idem. Procurei suingar como tinha ouvido nos discos, mas a coisa simplesmente não funcionava. Olho para o produtor, e aquela cara de insatisfação está lá. Voltei para casa com "zero".
Até que depois de meses compreendi: forró pentecostal não é o forró tradicional, é um estilo genérico qualquer já adaptado para o gosto dos ouvintes. Também compreendi que esse é um mundo do qual não quero fazer parte, e essa foi a melhor conclusão que tirei de toda essa história. Isso não é um tiro no pé, até porque o dinheiro que pagam nesses trabalhos é quase irrisório.
Então, para não enrolar mais, quando me ligam e fico sabendo que é esse estilo de música, respondo: "então, obrigado por ter lembrado de mim, mas essa não é a minha praia, então seria melhor chamar outra pessoa."
E volto a dormir em paz...
Abraço,
Claudio

Comentários

Elton Ricardo disse…
Parabéns, my hero! rs
DMNE disse…
Claudiao, que vergonha!!! Recusar um forró santo!

Tá com medo que seu nome vire Claudio FOrrocha?

Abraço e parabéns pelo trabalho que vem realizando. Pena que faz tempo que não nos encontramos.

Abraço,

Marcio Domene

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