Um Assunto Delicado

Isso aconteceu em 2004.
Estava gravando em um estúdio em São Paulo, uma verdadeira “boca de lobo”: sujo, cheirando mofo, equipamento precário, em um lugar caindo aos pedaços.
Eu tinha uma filosofia de preços naquela época: qualquer um, desde que não perdesse o trabalho e, obviamente, esta mentalidade me levava a trabalhar em lugares como esse. O meu cachê, nesse trabalho, era de R$50,00 por faixa. O trabalho, totalmente desorganizado, levou três dias para ser gravado, o que consumiu quase 1/3 do meu cachê.
Aí o dono do estúdio chega e me chama, junto com o baterista, para ouvir uma base gravada lá (um forró), e diz:
“Então, esse é o produtor X, grava aqui direto. Ele sempre chama o baixista Y e o baterista Z, e não os chama porque vocês são careiros!”
Eu perguntei “você sabe por quanto estamos gravando?” e ele responde “sim, por 50 a faixa, mas esses outros gravam um CD de 10 faixas por 250 reais”. Faça as contas...
Fiquei chocado com essa resposta, e mais tarde fui conversar com alguns amigos, há anos no mercado e muito bem conceituados. A resposta, com poucas variações, foi a seguinte:

“Seja flexível, mas saiba dar valor a você mesmo e ao seu trabalho”

Comecei a adotar essa postura de me valorizar, e de cara perdi a maioria dos meus trabalhos, principalmente gravações. Passei o ano de 2005 com meu orçamento à base de shows no SESC e gravações que pagavam melhor. Realmente foi um ano bem complicado, mas sobrevivi.
E entrou o ano de 2006. Outros contatos, outras gravações, shows, começaram a aparecer. Comecei a receber bem pelo meu trabalho, e a fazer coisas mais relevantes no meu currículo, de maneira que pude ver os resultados dessa nova filosofia. De lá para cá, fico feliz em ver o número de portas que foram abertas, e o caminho que minha carreira tem tomado.
Mas podia ter sido muito diferente. Eu poderia ter topado encarar a disputa pelo menor cachê, e hoje estar trabalhando por cada vez menos. O mercado quer desvalorizá-lo, e usa todos os artifícios para isso. Ao mesmo tempo, exibe seu currículo para os clientes, e muitas vezes cobra um cachê bom que deveria ser seu, mas repassa somente o “combinado”.
A propósito: “cada cabeça, sua sentença”. Não sou dono da verdade, só quis colocar a minha perspectiva sobre o assunto, pois tenho aprendido que saber cobrar é uma arte à parte.
Abraço,
Claudio

Comentários

Denis Gazeta disse…
Isso mesmo cara!

Não faça jamais parte desse sistema mundano que parece nos atrair cada vez mais. Sabe, no começo você pode dar cara a tapa pra conseguir um espaço, mas com o tempo você tem que por seu preço sim. A vida foi justa contigo!
Abração!

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