Aos Aspirantes a "Session Man"

O Leonardo de Castro deixou o seguinte recado no Orkut:

Oi Claudio, queria sugerir uma matéria la pro seu blog...
Não sei se os novatos perguntam muito isso a vc, mas seria interessante fazer uma matéria sobre como entrar no "mundo" dos session men, no mercado de gravações e etc
.”

A pergunta é muito pertinente, volta-e-meia alguém me pergunta a mesma coisa.

Na verdade, não existe uma fórmula para entrar no mundo das gravações. Você pode fazer tudo o que eu escrever, e assim mesmo a coisa não caminhar como deveria. Para piorar, acho que minha experiência pessoal é um péssimo exemplo, pois praticamente caiu no meu colo, sem eu ir atrás. Toda a minha preparação para trabalhar como músico de estúdio foi, na verdade, correr atrás do atraso, pois acredito que comecei despreparado em vários aspectos.

Mas, existem coisas que podem ser feitas de maneira a facilitar o processo.

Uma coisa importante é conhecer o máximo de músicos que puder, de preferência tocando. É praticamente inútil se apresentar a algum músico e dizer: “prazer, sou fulano, toco baixo, etc. Se você puder me indicar para algum trabalho, nessa!” Essa abordagem pode parecer surreal, mas é a coisa mais comum que existe. Pergunte a algum músico no mercado se já não passou por isso, e surpreenda-se com a resposta. O resumo é: as pessoas não irão chamá-lo sem ver o que você toca, ponto final. Você tem que mostrar serviço, o som que você faz vai falar por você. Economize na saliva, use os dedos. Veja onde os músicos se reúnem e vá até lá, procure dar “canja” com eles, esse pode ser um bom princípio.

Um outro aspecto é que ser músico de estúdio exige algumas habilidades específicas, diferentes de músico de palco. Uma delas é a leitura (de novo não!). Aprenda a ler fluentemente, no mínimo cifra e divisão. A maioria das partituras vem dessa maneira, com algumas convenções geralmente escritas em clave de sol. Mas tenha em mente a leitura em clave de fá, obrigação de qualquer baixista, e super desconsiderada hoje em dia. Pego de 10% a 15% dos trabalhos escritos em clave de fá e, inacreditavelmente, a minha leitura virou um diferencial, quando deveria ser algo comum a qualquer baixista.

Outra coisa: metrônomo. Estude com ele, torne-se o melhor amigo dele, porque praticamente tudo o que você vai gravar será dessa maneira. Toque os ritmos, as frases, com metrônomo, até o ponto em que você se esquece dele.

Ser versátil é outro item importante. Saiba tocar vários estilos com honestidade, mesmo que não seja seu ponto forte. Alguns estilos são tocados com palheta, outros com slap, outros têm muitas notas, outros quase nenhuma. Procure assimilar essas diferenças, e aprenda a tocar sem “sotaque” (tocar o ritmo de samba e frasear como rock, por exemplo).

Seja sensível com relação ao produtor. Alguns gostam que você coloque notas demais, outros querem 95% groove e 5% frase. Pergunte o que querem, e esteja preparado para dar isso a eles. Nem todos falam, mas a reação deles fala por eles. Essa é uma grande desvantagem de gravações on-line, mas nem tudo é perfeito na vida.

O próximo item, ia deixar de lado por considerar redundante, mas...

Um instrumento regulado, cordas novas, cabos bons, além de uma técnica em dia, são o mínimo do mínimo. E seja afinado no fretless, pelo amor de Deus...

Como eu disse, isso não é a certeza de entrar no meio de gravação, mas a segurança de fazer um bom trabalho quando a chance aparece. Às vezes, essa é a única chance. Não faça como eu, comece agora ao invés de correr atrás do “prejuízo”. Estar bem preparado é uma segurança, que com certeza não tive na minha primeira gravação como profissional.

Abraço,

Claudio

Comentários

Elton Ricardo disse…
Ótimas dicas.

Só quero ver qdo pegar um "produtor" que pede, rock, com pitadas de salsa, merengue, samba, axé, baião, vanerão, xote e um pouquinho de Heavy Metal... Ahhhh, citando sempre no "sotaque" Smooth Jazz! hahahahahah!

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