Os Músicos e o Marketing

Com essa história toda de sair na capa da revista, já ouvi de muitos amigos a seguinte frase: "poxa, agora você pode ir atrás de patrocínio de cordas, amplificadores, etc." Isso me fez pensar a maneira que nós, músicos, lidamos com o marketing.

São poucos os casos que conheço de um relacionamento equilibrado entre o músico e o marketing. Alguns são meio bizarros. Conheço gente que vai para os Estados Unidos, passa em frente da Berklee, tira uma foto, e volta dizendo que fez curso com o mais conceituado professor dessa escola. Ou encontra por acaso com um artista famoso, tira uma foto ao lado, e sai falando que fez turnê com ele. Apesar disso, de consistente mesmo, não tem nada: não tem capacidade de acompanhar artistas, e muito menos de gravar. Os litros de café que já tomei esperando algum músico "marketeiro" se entender com a partitura, o metrônomo, ou o estilo musical, são uma prova disso.

Isso me lembra um produto lançado nos anos 90, voltado para o público infantil. Eu trabalhava em uma produtora de som, e fiquei sabendo dessa história. As pessoas que acompanharam as gravações do comercial disseram que as crianças entravam cantando, pegavam um pedaço de pão com o produto, e na hora em que mordiam, faziam uma careta e não conseguiam continuar, porque o negócio era ruim pra caramba. Tiveram que mudar o produto no comercial por um parecido, para que as crianças pudessem dar uma mordida e sorrir. Obviamente, o produto foi lançado e sua vida foi curta. Quem gosta de achar que uma coisa é incrível, mas na hora "H" descobrir que tudo não passou de uma farsa?

Por outro lado, existem os músicos que são avessos ao marketing, ou pelo menos meio "cismados" com ele. Tenho um amigo, produtor, que se diz adepto do anti-marketing: apareceu pouco no DVD? Bom! O palco estava meio escuro? Melhor! O seu marketing é a excelente qualidade de seus trabalhos, e está sempre correndo entre uma gravação, produção, etc.

Preciso confessar que sou um preguiçoso com relação ao marketing: espero sempre que as coisas caiam no meu colo. Adoraria ter um patrocínio de cordas, que são um peso no meu orçamento. Agora, enviar release para importadora... a preguiça toma conta e eu continuo comprando minhas cordas. É vergonhoso dizer, mas já me pediram para mandar, e eu não fiz nada...

Vejo que muitos músicos, assim como eu, poderiam ter um relacionamento mais equilibrado com o marketing: conseguir se divulgar sem exageros. Se o seu trabalho é bom, e puder ser conhecido por mais pessoas, porque não investir um pouco em si mesmo? Claro, essa pergunta é para mim...

Abraço,

Claudio

Comentários

Claudião:

Sou um "sem baixo" há um ano e meio, utilizando um instrumento emprestado de aluno. Por que? Fiquei na dependência e "promessa" que alguns luthiers fariam o trabalho em tantos meses. O primeiro fez uma m**** de um instrumento que devolvi. O segundo, apesar de sua qualidade inquestionável, não está entregando no prazo. O resultado: bassless...rs... O Nilton Wood havia me alertado sobre isso... disse ele: "parceria é fogo"...rs...

Cara, estou convicto de que o melhor é ficar quietinho, esperando que a empresa entre em contato com vc. Aí a negociação e contrato são bons para ambos os lados. Do contrário, parece que estão fazendo favor para vc...

Concordo com seu amigo "anti-marketing"...rs...

Eu não vou mais atrás; se a empresa entende que sou uma boa vitrine para seus produtos, que eles venham!

Sérgio Pereira
Claudio Rocha disse…
Serginho, concordo com você, nem que seja no meu sub-consciente, rsrsrsrs.
Neguinho achando que tá te fazendo um favor, ninguém merece... é melhor continuar comprando minhas cordas.
Abração!
Claudiao
Elton Ricardo disse…
Primeiramente parabéns pelo excelente artigo que escreveu.

Eu também ainda sou romantico e acredito que a arte fala por nós...

Abraços!
Lion disse…
Belo texto, parabéns!
Edu Fettermann disse…
Fala Cláudio! Em primeiro lugar, parabéns pela matéria, você merece! Cheguei na casa de um amigo uns dias atrás com a revista na mão e o cara disparou essa: "Ué, o que o Cláudio tá fazendo na capa dessa revista?". E eu fiquei assim "Pô, você conhece o Cláudio?". E o cara: "Ele tocou com o meu pai bastante tempo". Esse meu amigo é o Matheus Ortega, filho do pastor Gerson Ortega. Os caras só falaram bem de você, claro!

Bom, sobre a questão do marketing, eu acho que realmente achar a dose certa é difícil, mas se você conseguir encontrá-la, sem dúvida colherá muitos (e bons) frutos.

Abraço

Edu Fettermann
Claudio Rocha disse…
Pô Edu, mundo pequeno, rsrsrsrs.
O Gerson foi uma das primeiras pessoas que pediu oficialmente para acompanhá-lo. Ele e a sua família são pessoas que tenho um respeito e carinho especiais, mesmo estando sem contato há um bom tempo.
Abração procê!
Claudião

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