Respeitando o Processo

Em uma certa gravação, o arranjador chega com a partitura e entrega para os músicos. Uma cifra e divisão, com algumas convenções, ou seja, o padrão nacional do mercado. Ele também fez uma guia no teclado, e a coloca para poderem ouvir, entender os "climas" da música, anotar as levadas de baixo e bateria, enfim, terem um panorama geral do arranjo.

Aí, uma coisa acontece: enquanto o arranjo é tocado pela primeira vez, um dos músicos começa a tocar junto, passando as divisões, frases, informações que terá que gravar, etc, enquanto os outros vão anotando tudo o que é necessário para fazerem o trabalho direito.

Posso afirmar, com uma boa margem de segurança, duas coisas: os músicos que anotaram as partituras ao invés de saírem tocando, pedirão para ouvir de novo. E esses mesmo músicos irão acertar seus takes antes daquele que ficou tocando em cima da guia, a não ser que esse último seja muito acima da média.

Esse caso não é um trabalho em particular, mas uma situação que volta-e-meia acontece por aí.

A primeira leitura de uma partitura é um fundamento dos mais importantes quando se está gravando, ou tirando o repertório para um show, por exemplo. Quando fazemos essa primeira passada de olhos, nos concentramos no trabalho do arranjador, do músico que originalmente tocou, e não no nosso. Se já saímos tocando quando deveríamos estar ouvindo, nosso foco fica dividido, e as coisas acabam ficando um pouco confusas nesse ponto, uma hora estamos absorvidos pelo arranjo, em outra nossa atenção é voltada para tentar tocar uma frase mais complicada, não ouvindo mais o que está acontecendo na música por um bom tempo.

Particularmente, quando vou gravar uma música, sequer pego no instrumento, somente ouço e anoto tudo o que for possível extrair do processo: os ritornellos, voltas, pulos de Coda, células rítmicas ou frases que não estejam escritas na partitura, idéias interessantes que o arranjador possa ter colocado na guia, etc. Tudo isso me dará segurança suficiente para começar gravando bons takes.

É obvio que saber tocar bem é importante. Mas, em alguns pontos do processo, saber ouvir é essencial.

Abraço,

Claudio

P.S.: Por que os músicos iriam pedir para ouvir a guia de novo? Porque se sentiram atrapalhados por aquele "mala" que não parou de tocar…

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