Conselhos Para o Ponto-Morto


Não importa o quão bom e competente você seja, uma hora a coisa pára.

Ano após ano, o músico se depara com períodos de trabalho intenso, correndo de uma gig para outra, e alguns momentos onde tudo desacelera. Quanto mais agitado o período, mais estranho é ficar parado.

Há alguns anos atrás, existia uma certa previsibilidade nos altos e baixos do mercado: janeiro é péssimo, tudo anda em marcha lenta até o Carnaval e, passado o feriado, as coisas começam a acelerar vagarosamente, até tudo começar a correr no 2º semestre, sendo que o final de ano não é unânime para ninguém. Para os músicos de estúdio, novembro e dezembro eram meses de desaceleração, porque os artistas gravavam para lançar o trabalho no Natal. Os músicos de show se divertiam mais nesse aspecto, com formaturas, reveillon, etc.

De uns anos para cá, a coisa mudou completamente, nada mais é previsível. Já gravei no dia 26 de dezembro, corri de um estúdio para outro em pleno mês de janeiro, e fiquei em casa em um novembro dos infernos. Tudo gira ao sabor de fatores que não consigo explicar, e talvez não exista mais uma explicação para isso.

O músico, como qualquer autônomo, vive nessa corda bamba. Com um complicador: geralmente confunde trabalho com diversão. É incrível a rapidez com que uma palavra como "quero" acaba virando sinônimo de "preciso". Instrumentos, efeitos e vários "brinquedinhos" são adquiridos com o argumento de que "é necessário ao trabalho", sendo que algumas vezes é verdade, mas em outras é simplesmente uma desculpa para não ser questionado, ainda mais em épocas de "vacas magras". Nessas horas, bom senso e sinceridade consigo mesmo são fundamentais.

Mas, o que essa gestão financeira tem a ver com música? Acredito que tudo, porque dinheiro (ou a falta dele) é algo que pode desequilibrar o músico na suas atitudes, na sua ética e na sua performance.

Certa vez, fui chamado para regravar um CD. Quando soube quem tinha gravado, um baixista dos bons, fiquei sem entender nada. O produtor me esclareceu: "O cara chegou para gravar com um baixo emprestado, porque tinha vendido o seu para pagar contas. Ficou o tempo inteiro da gravação tocando tenso, conversando com a mulher no telefone por causa do pagamento de alguma coisa, errou um monte por causa da preocupação, ficou me 'pilhando' porque queria receber na hora em dinheiro a todo custo, sendo que esse não era o combinado. Entendo a situação dele, mas não tenho culpa por essas coisas. Esse eu não chamo mais".

O equilíbrio tem um preço a ser pago, o da espera em satisfazer seus desejos de consumo. Mas a tranquilidade em saber que as coisas estão sob controle, que as contas estão pagas, e que um mês ruim de trabalho não trará sua desgraça eterna, em minha opinião, compensam o sacrifício.

Porque, como comecei escrevendo, uma hora a coisa pára… mas volta, sempre volta…

Abraço,

Claudio

Comentários

Andre Bereta disse…
Falou tudo brother, na realidade talvez pelo bixo musico ter a sensibilidade muito mais a flor da pele, ele esta infelizmente apto a reincidir neste erro de nao se preparar para o dia mal e para saber ser mais diplomatico nas situações onde ele pode se queimar como aconteceu ao tal baixista.
Vote Claudião para ministro de assuntos aleatórios hehehe

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